Varico Pereira, Confraria do Bom Jesus do Monte, Braga

A necessidade emergente de dar sustentabilidade aos destinos turísticos, nomeadamente aos que registavam uma maior procura, por via da sua capacidade de atração, leva-nos a repensar a forma como se organiza o acolhimento dos turistas e peregrinos. Existem vários espaços religiosos, com grande atratividade turística, em Portugal e no Mundo, que devem aproveitar este momento para reorganizar o acolhimento dos turistas e peregrinos, minimizando os impactos negativos que podem causar no local. A este respeito, a Arquidiocese de Braga tem realizado esse trabalho em vários Santuários e na sua Sé Catedral.

A sustentabilidade é um tema relativamente recente e está na ordem do dia, a nível nacional e internacional, seja na política, na sociedade, nas empresas, nas universidades ou em outras realidades, o que vem justificar uma atuação por parte das entidades gestoras destes bens.

O conceito de sustentabilidade relativamente ao turismo enquadra-se no respeito pelo meio ambiente, a identidade cultural, a economia, a sociedade, ou outros (McIntosh et al, 2002).

A sustentabilidade no turismo é um caminho incontornável e assumido, cada vez mais, com crescente consciência pelos agentes do setor e, significa que tem em conta as necessidades dos visitantes, do setor, das comunidades locais e os seus impactos ambientais, económicos e sociais no presente e no futuro.

A este respeito e, por via das circunstâncias que vivemos, teremos de referir, também, a atual pandemia do COVID-19, que veio causar um impacto negativo, sem precedentes, na sociedade e na economia, especialmente nas atividades dependentes da globalização, como a industria da mobilidade, onde se insere o sector do turismo. Poderá, no entanto, ser uma oportunidade para repensar a atividade turística, onde o turismo sustentável poderá impor-se e surgir como uma alternativa ao turismo de massa. Apesar de todas as incertezas, este poderá ser o momento ideal para planear novas estratégias de gestão de destinos, massificados ou não, como o caso do nosso património cristão.

O património religioso e a sustentabilidade turística do mesmo é um tema urgente, um dos melhores exemplos será o Vaticano, que é o país do mundo que mais turistas recebe, comparado com a sua população. Recebe 6.000.000 de turistas, por ano, para 825 habitantes, numa área de 44 hectares, onde apenas um terço desta área é visitável.

Os efeitos no património físico são facilmente visíveis, por exemplo, os milhões de visitantes anuais têm prejudicado a integridade das pinturas da Capela Sistina. A outro nível, João Duque (2013) alertava sobre os problemas com a secularização do património religioso, onde a pressão turística pode levar à perda da autenticidade do património religioso cristão, referindo que “o turismo religioso terá que ser um turismo que evite a completa musealização do património religioso”.

Sabemos que se o turismo não for equilibrado e sustentável, tem efeitos negativos sobre os recursos e o destino. Preservar e valorizar o território, os recursos, o património é uma tarefa de longo prazo, exigente e multidisciplinar, que obriga a uma mobilização e participação ativa de todos, Igreja, entidades gestoras, estado, empresas e população. Só assim podemos melhorar o acolhimento de quem chega, permitindo uma experiência enriquecedora e positiva e, melhorar a segurança e a qualidade de vida da comunidade local.

 

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