Palavra de Abertura
– Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor D. Américo Aguiar, Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa;
– Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor D. Manuel Neto Quintas, Membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana e responsável pela área da Pastoral do Turismo;
– Excelentíssima Senhora Dra. Teresa Ferreira, Diretora do Departamento de Desenvolvimento de Recursos, do Turismo de Portugal;
– Excelentíssimos Conferencistas e Convidados destas Jornadas;
– Reverendos Senhores Padres e Caros Religiosos e Religiosas;
– Caros agentes da atividade turística: operadores e guias-intérpretes;
– Minhas Senhoras e Meus Senhores
1. A Comunicação é, hoje, um elemento incontornável da nossa vivência em sociedade. Com a sua origem no termo latino communicare, significando «tornar comum a muitos», ou, ainda, «partilhar»[i], nunca, como hoje, a comunicação ganhou tanta relevância nas nossas sociedades. Com efeito, podemos afirmar, com alguns especialistas, como Joaquim Paulo Serra, professor catedrático da Universidade da Beira Interior, que «a “comunicação” assumiu um lugar tão central nas nossas sociedades que se tornou corrente a afirmação de que vivemos em plena “sociedade de comunicação”»[ii]. Seja, como bem sabemos, pelo papel decisivo do desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação; seja, ainda, pela «natureza democrática das nossas sociedades», em que os processos de decisão assentam, cada vez mais, na troca de informações e na mediatização, o que exige o «alargamento constante das trocas comunicativas»[iii]. Vivemos, assim, na denominada «sociedade em rede»[iv], como lhe chamou o sociólogo Manuel Castells, fruto de uma sociedade globalizada, quer ao nível económico, quer nas práticas sociais predominantes[v], formando, o que ele denomina «uma rede global» que, por sua vez, é geradora da «cidade global»[vi]. Uma rede que se tornou um «recurso do nosso tempo»[vii], como nos refere o Papa Francisco, enquanto «fonte de conhecimentos e de relações outrora impensáveis»[viii].
2. Mas, como se insere a Igreja, efetivamente, neste processo de comunicação em rede? Antes de mais, tomando consciência de que a comunicação faz parte da sua natureza, do seu ADN, quer pela sua natureza missionária (cf. LG. 17), quer pela perene Boa Nova que é chamada a comunicar aos homens, em cada tempo. Depois, na atenção aos novos recursos gerados pelos meios de comunicação, que oferecem «maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos»[ix], como refere o Papa Francisco, constituindo-se tais meios como «um verdadeiro dom de Deus»[x]. Todavia, numa permanente avaliação destes novos meios de comunicação, de modo a que eles sirvam a verdade que liberta[xi] e gerem verdadeira comunhão entre pessoas e comunidades – naquela rede que liberta e que preserve a autêntica comunhão[xii], para tomarmos ainda as palavras do Papa Francisco.
Numa síntese feliz, refere o Pe. Miguel Neto, numa das últimas mensagens da Obra Nacional da Pastoral do Turismo, a assinalar, entre nós, o Dia Mundial do Turismo: «A Igreja tem vindo a refletir sobre todas as questões ligadas à comunicação e ao uso das novas tecnologias. Os cristãos estão chamados a estar neste mundo – porque também é preciso evangelizá-lo – entrecruzando-se com os outros habitantes desse espaço e descobrindo as possibilidades de diálogo entre os mundos físico e digital. Importa conhecer as suas racionalidades próprias, subjacentes, através de uma análise valorativa e crítica, para conseguirmos alcançar as capacidades e limites aí existentes e, sobretudo, para podermos continuar a fazer presente a mensagem de Cristo»[xiii].
3. Falar de comunicação não significa, contudo, considerar apenas as novas tecnologias de informação e de comunicação, seja no uso da linguagem escrita, seja na divulgação da imagem. Pese embora, o «ambiente digital seja virtual e não irreal», como refere o Pe. Miguel Neto, no seu livro Igreja e Encontro na Estrada do Digital[xiv], a comunicação não pode restringir-se ao limite do espaço digital, mas pressupõe o encontro com a realidade empírica, com o factual. Aliás, o digital, enquanto conhecimento na realidade virtual, deve servir o encontro: encontro de pessoas, encontro com a natureza, encontro com o património, encontro e partilha de culturas, etc. Isto mesmo nos refere o Papa Francisco, na sua última mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, ao afirmar que «a rede é uma oportunidade para promover o encontro com os outros»[xv], abrindo «o caminho ao diálogo, ao encontro, ao sorriso, ao carinho», não uma rede que capture, mas que liberte, que preserve a comunhão de pessoas livres[xvi].
É nesta dinâmica que se coloca toda a ação pastoral na Igreja, e agora particularmente a pastoral do turismo: usar convenientemente os recursos digitais e potenciar sempre as demais formas de comunicação, para que, nesta sociedade em rede, a comunicação sirva cada vez melhor o encontro com o Outro, com os outros, com a natureza e com todas as riquezas culturais que nos permitem crescer espiritual e humanamente.
Foi com este desiderato que se programaram estas Jornadas Nacionais: permitir uma reflexão profunda sobre a comunicação na Igreja, no contexto da pastoral do turismo. Começando pelo fundamento bíblico, com a conferência A Comunicação na Sagrada Escritura, alargaremos o nosso horizonte para a reflexão sobre as diversas formas de comunicação, os seus recursos e os espaços que hoje reclamam uma presença mais decisiva da Igreja, tomando a expressão do Papa Francisco, que as designou como periferias – certamente que não apenas periferias geográficas, mais igualmente humanas, existenciais e espirituais. Tudo isto para que vivamos sempre, de modo renovado, aquele mandato do Senhor à Sua Igreja: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura» (Mc. 16, 15) – convite que há-de ganhar novo impulso neste tempo, em que celebramos ainda um mês missionário extraordinário.
4. Para que esta reflexão seja possível, contamos com um leque vasto de personalidades que aceitaram, de forma tão disponível e amável, o nosso convite para nos darem o seu contributo. Na pessoa do Senhor D. Nuno Brás, que se deslocou do Funchal até à sua diocese de origem, para partilhar connosco o seu saber, queremos agradecer a todos os conferencistas e moderadores dos painéis a sua disponibilidade imediata para partilhar connosco os seus conhecimentos e reflexões.
Um agradecimento especial ao Departamento de Pastoral do Turismo do Patriarcadode Lisboa (a Quo Vadis) que, de modo tão diligente se empenhou na organização e divulgação destas Jornadas, em cooperação com a Obra Nacional de Pastoral do Turismo. Fica-nos, uma vez mais, a certeza de que o trabalho conjunto, nesta área do serviço pastoral – a pastoral do turismo – é já uma realidade assumida entre nós, em permanente consolidação; e de que os serviços diocesanos vão ganhando cada vez maior protagonismo neste tipo de organizações.
Uma palavra de agradecimento a todos os que, de um modo ou de outro, contribuíram para que estas Jornadas se pudessem realizar. Neste sentido, um grato reconhecimento à Associação Mutualista Montepio pela cedência deste auditório, a título gracioso.
Na expetativa de que as Jornadas sirvam as expetativas de todos e contribuam para o aprofundamento dos compromissos eclesiais na pastoral do turismo, desejamos a todos umas ótimas Jornadas.
Lisboa, 25 de Outubro de 2019
Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho
Diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo
[i] J. Paulo Serra – Manual de Teoria da Comunicação. Estudos em Comunicação, da Universidade da Beira Interior. Covilhã: Labcom, 2007, p. 69. (Disponível em http://www.labcom.ubi.pt)
[ii]Ibidem, p. 1.
[iii]Ibidem, pp. 1 – 2.
[iv] Manuel Castells – A Sociedade em Rede. Volume I. 2ª Edição. Tradução de Roneide Venancio Majer. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1999.
[v] Cf. Ibidem, p. 405.
[vi]Ibidem, p. 407.
[vii] Papa Francisco – “Somos membros uns dos outros” (Ef. 4, 25): das comunidades de redes sociais à comunidade humana. Mensagem para o 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Vaticano, 24 de Janeiro de 2019.
[viii]Ibidem.
[ix] Papa Francisco – Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura de encontro. Mensagem para o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Vaticano, 24 de Janeiro de 2014.
[x]Ibidem.
[xi] Cf. Papa Francisco – “A verdade vos tornará livres” (Jo. 8, 32): Fake news e jornalismo de paz. Mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Vaticano, 24 de janeiro de 2018, nº 3.
[xii] Papa Francisco – “Somos membros uns dos outros”… Op. Cit.
[xiii] Pe. Miguel Mário Neto – O Turismo e a transformação digital – “A rede como espaço de comunhão”. Nota da Obra Nacional da Pastoral do Turismo para o Dia Mundial do Turismo de 2018. Algarve, 9 de Setembro de 2018.
[xiv] Miguel Mário Lopes Neto – Igreja e Encontro na Estrada Digital – Perspetivas Teológicas a partir do estudo de Manuel Castells. Cascais: Lucerna, 2017, p. 185.
[xv] Papa Francisco – “Somos membros uns dos outros”… Op. Cit.
[xvi] Cf. Ibidem.