As III Jornadas Nacionais de Pastoral do Turismo realizaram-se em Bragança, nos dias 27 e 28 de Outubro passado, sob o tema geral: Turismo e Sustentabilidade – Economia, Sociedade e Ambiente. Como conclusões destas Jornadas, ainda que parciais, podemos relevar os seguintes aspetos:

 

  1. Programação e preparação das Jornadas

 

1.1. Registou-se um forte empenho da Obra Nacional da Pastoral do Turismo (ONPT), conjuntamente com o Serviço Diocesano da Pastoral do Turismo de Bragança-Miranda (PTBM) na escolha, convite e acompanhamento dos conferencistas convidados. Uma tarefa nem sempre fácil, particularmente dada a exiguidade do tempo, atendendo a que as Jornadas se realizaram no final de Outubro, tendo o novo ano pastoral iniciado em Setembro. Contudo, conseguiu-se reunir um painel de excelência, em conformidade com a formação e experiência profissional dos convidados, que abordaram as temáticas a aprofundar nestas Jornadas. De realçar que a presença de alguns conferencistas se deveu ao conhecimento pessoal de alguns membros da PTBM, bem como de um dos membros da ONPT.

 

1.2. A preparação das Jornadas, com todos os aspetos práticos que envolveram, foi quase integralmente realizada pela PTBM, ainda que sempre em articulação com a ONPT, que assumiu as tarefas da sua competência específica. Um trabalho exemplar, de empenho e entusiamo da PTBM, que permitiu que as Jornadas decorressem exemplarmente, em termos de organização e de realização.

 

1.3. Atendendo a que as duas realizações anteriores das Jornadas Nacionais de Pastoral do Turismo decorreram em espaços eclesiais (Santuário de Fátima e Santuário do Bom Jesus do Monte – Braga), sublinhamos, nestas últimas, a particular cooperação entre as entidades civis de Bragança e a PTBM. De um modo muito especial, registámos o particular interesse e colaboração da Câmara Municipal de Bragança na sua realização, colocando ao serviço da Pastoral do Turismo o seu Auditório, bem como colaborando de outras formas na sua realização, nomeadamente através da disponibilização de transporte para a visita à Basílica do Senhor Santo Cristo do Outeiro, no segundo dia das Jornadas. Esta cooperação, já registada anteriormente em Braga, ao nível de transporte e de outros pequenos contributos, deverá ser sempre valorizada e incentivada. O mesmo se podendo dizer do Instituto Politécnico de Bragança que, desde a primeira hora, se manifestou disponível para colaborar, mormente na produção de materiais de divulgação, como os cartazes das Jornadas.

 

  1. Decurso das Jornadas

 

2.1. Relevamos um aspeto muito particular destas Jornadas que, apesar de informal e de anteceder o seu início, criou um espírito de partilha e de familiaridade entre alguns dos seus participantes, nomeadamente os Senhores Bispos presentes, a Senhora Secretária de Estado do Turismo, alguns oradores convidados e os membros da ONPT e da PTBM: o jantar da véspera, organizado pela diretora da PTBM. É da mais elementar justiça que aqui se registe o reconhecimento pelo acolhimento feito, bem à maneira do nordeste transmontano, onde a mesa farta é essencialmente um pretexto para a comunhão entre as pessoas. De muito beneficiaram as Jornadas com este momento reservado aos elementos envolvidos nesta realização, para além dos múltiplos assuntos que puderam ser dialogados à margem das temáticas específicas das Jornadas.

 

2.2. Considerando a temática das Jornadas Nacionais de Pastoral do Turismo, poderia parecer, a alguns, que esta se inscrevia fora do âmbito estrito da pastoral. Todavia, como bem referiu o Sr. D. Manuel Quintas, em representação da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana (CEPSMH), secundado pelo diretor da ONPT, na sua palavra de abertura, a temática inscreveu-se na compreensão do desenvolvimento integral da pessoa, do respeito e promoção da sua dignidade, bem como na prossecução de um autêntico bem comum, ao serviço do qual se compreendem todas as realidades. Não foi por acaso que ambos se referiram ao número 14 da Populorum Progressio, do Papa Paulo VI, que específica o sentido cristão de desenvolvimento, que, para além do económico, deve ser integral, promovendo «todas as pessoas e a pessoa toda» (cf. PP. 14).

 

2.3. É nosso entendimento, também, que este tipo de Jornadas deverá servir não apenas para definir traços de ação pastoral, a partir da documentação da Igreja, no que à pastoral do turismo se aplica, mas igualmente se deve constituir como espaço de debate e de escuta de perspetivas diversas, que provêm de outros quadrantes do entendimento da realidade turística, permitindo à Igreja responder pastoralmente a estas realidades de forma mais fundamentada e eficaz. Isto é, estas realizações poderão ser um bom areópago de diálogo interdisciplinar, onde todos se complementam na perspetiva de um desígnio comum, não obstante a especificidade de cada entidade interveniente. De alguma forma, também esta realidade esteve presente nestas III Jornadas Nacionais de Pastoral do Turismo.

 

2.4. Não obstante o que acima se afirma, os organismos de pastoral do turismo deverão cuidar sempre da dimensão pastoral de todas as Jornadas, como finalidade própria, atendendo sempre, entre múltiplos aspetos, à especificidade da sua ação, baseada no acolhimento, na evangelização e na fundamentação na Doutrina Social da Igreja. Nestas Jornadas, com uma temática mais aberta à diversidade de olhares sobre turismo e sustentabilidade, poderíamos ter ido mais longe na consideração de algumas temáticas, particularmente no âmbito social e ambiental. Sem olvidar o reconhecimento e gratidão que é devido a todos os conferencistas e moderadores dos diversos painéis, sentimos que a dimensão pastoral, nos âmbitos referidos, poderia ter sido ainda mais valorizada. Neste sentido, na sequência de uma avaliação final, muito sintética, feita pelos diretores da ONPT e da PTBM, entendemos que, de futuro, para além da sugestão de subtemas a tratar (título das intervenções), poderemos sugerir tópicos de intervenção, deixando sempre à consideração dos conferencistas a orientação final das suas conferências.

Ainda que o problema da interioridade e do despovoamento fosse abordado, quer pela Senhora Secretária de Estado do Turismo, quer pelo primeiro painel, que abordou a questão da economia e do desenvolvimento local, questões como despovoamento, envelhecimento, turismo solidário, desenvolvimento comunitário ancorado no turismo, entre outros, poderiam merecer outra atenção, particularmente na região do nordeste transmontano, onde decorreram estas Jornadas. Estas notas ajudam-nos – ONPT e Secretariados Diocesanos – a valorizar sempre mais, no futuro, o tratamento de alguns conteúdos, no intuito de contribuirmos para um olhar mais vasto no serviço às pessoas e às suas comunidades, atendendo sempre a uma especial solicitude pastoral, que nos caracteriza como serviço eclesial.

 

2.5. Consideramos que a partilha de experiências e a visita ao património, como tem acontecido no segundo dia das Jornadas Nacionais, se deve manter. É uma oportunidade de conhecimento da realidade local, de contacto com os serviços já organizados, nomeadamente roteiros de património religioso, e de partilha de experiências práticas que muito poderão contribuir para o enriquecimento mútuo entre dioceses e paróquias. Além disso, é uma oportunidade de serviço de acolhimento e de apresentação da realidade local, colocando os participantes das Jornadas na posição dos turistas, beneficiando, assim, de um serviço que muito pode enriquecer o seu conhecimento e a sua ação. Nestas Jornadas pudemos contar com a participação de um perito, profundo conhecedor do património local, que nos ajudou a fazer a leitura aprofundada dos espaços visitados e da realidade sócio-religiosa e histórica em que se inserem.

 

2.6. No cômputo geral, consideramos que estas foram uma boas Jornadas, que nos serviram para alargar os horizontes de ação pastoral e nos incentivaram a mobilizarmo-nos na prossecução de um turismo sustentável, tendo sempre a pessoa, na sua integridade, como centro de toda a nossa ação.

De relevar, como aspeto particularmente significativo, a participação da Senhora Secretária de Estado do Turismo nestas Jornadas de Pastoral do Turismo. Não obstante termos tido a presença do anterior Secretário de Estado na sessão de abertura das 1as Jornadas, o envolvimento pessoal e o interesse manifestado pelo trabalho desenvolvido pela Pastoral do Turismo, por parte da Sra. Dra. Ana Mendes Godinho, nestas últimas Jornadas, onde, inclusive, fez a conferência de abertura, dão-nos a certeza de uma profícua colaboração entre os serviços do Estado e a Igreja, seja a nível nacional, com a ONPT, seja a nível diocesano, com os respetivos Secretariados ou Serviços Diocesanos de Pastoral do Turismo.

De realçar ainda o envolvimento de alguns conferencistas, que, para além da sua intervenção, participaram ativamente nas Jornadas, proporcionando-nos, no diálogo mais formal ou informal, o seu contributo para a compreensão das diversas temáticas relacionadas com o turismo.

 

  1. Agradecimentos

 

3.1. Feita a indicação do caráter familiar que marcou estas Jornadas, fica-nos um profundo reconhecimento e agradecimento ao Serviço Diocesano da Pastoral do Turismo de Bragança-Miranda (PTBM) pela forma como se empenhou na programação e realização destas Jornadas de Pastoral do Turismo. Pela primeira vez, a orientação dos trabalhos foi realizada essencialmente pelo Secretariado Diocesano e não pela ONPT, o que é um sinal muito positivo.

 

3.2. Uma palavra de especial agradecimento à Diocese de Bragança-Miranda, na pessoa do seu Bispo, Sr. D. José Manuel Cordeiro, que, desde a primeira hora, acarinhou a ideia da realização destas Jornadas na sua Diocese, colaborando na sua organização, com as suas orientações e contactos, e participando ativamente nos trabalhos, no seu decurso. É um grande estímulo para a Pastoral do Turismo ter podido contar com o empenho, o entusiasmo e a presença do Bispo Diocesano nesta realização.

De igual modo, um especial reconhecimento para com os serviços diocesanos – Cáritas Diocesana, Pastoral Penitenciária, Serviço de Comunicação da Diocese, Seminário de São José, entre outros. A sua colaboração permitiu que as Jornadas decorressem com a eficácia já registada, para além de estes terem sido o rosto acolhedor destas Jornadas, especialmente nos serviços do secretariado.

 

3.3. Um especial agradecimento a todas as entidades públicas civis, que colaboraram, de alguma forma, com a organização destas III as Jornadas. Uma palavra de especial reconhecimento para com a Câmara Municipal de Bragança, na pessoa do seu Presidente, que, para além da sua presença na sessão de abertura, quis acompanhar e participar nos trabalhos, fazendo-se acompanhar, inclusive, do vereador responsável pela área do turismo no Município de Bragança.

 

3.4. Fica-nos um especial agradecimento a todos os conferencistas e moderadores dos diversos painéis, sem os quais as Jornadas não atingiriam os objetivos a que se propunham. A sua disponibilidade e contributo são exemplos, para nós, de cooperação, amizade e empenhamento numa causa comum – o desenvolvimento sustentável da ação turística.

Neste contexto, um especial agradecimento à Sra. Secretária de Estado do Turismo que, desde a primeira hora, manifestou “muito gosto e interesse em participar” nestas III as Jornadas de Pastoral do Turismo. Para além do contributo já referido, abriu-nos perspetivas de trabalho futuro que, certamente, há-de dar bons frutos em termos de cooperação institucional.

Ficamos igualmente reconhecidos ao Sr. Doutor Alexandre Rodrigues pela sua disponibilidade e precioso contributo na visita, que orientou, ao património de Bragança, onde se impõe sempre, sem desprimor para os demais locais de culto visitados, a singular Basílica do Santo Cristo de Outeiro, um verdadeiro ex-libris da Diocese de Bragança-Miranda.

 

3.5. Um agradecimento muito sentido ao Sr. D. Manuel Neto Quintas, Bispo do Algarve e membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana (CEPSMH), agora com a responsabilidade, no seio desta Comissão Episcopal, de acompanhar a Pastoral do Turismo. A sua intervenção e presença permanente nestas Jornadas Nacionais é não apenas um forte incentivo para este serviço pastoral, mas a garantia de que a Pastoral do Turismo será um serviço a desenvolver, cada vez mais, na Igreja em Portugal, conscientes de que somos um país de vocação turística e de que a Igreja Portuguesa está efetivamente atenta a este «sinal dos tempos», sabendo acolhê-lo e iluminá-lo com a luz do Evangelho. Nesta perspetiva, sentindo a urgência da missão, quisemos fazer memória do Sr. D. António Francisco dos Santos, nestas Jornadas, sabendo que ele nos deixa, para além do legado da sua bondade e da humildade, o incentivo a contemplar todos os campos de ação pastoral para aí tornar presente o Senhor Jesus Cristo e a Sua Boa Nova.

 

  1. Considerações finais

Por certo são múltiplos os desafios colocados a cada um dos participantes nestas Jornadas de Pastoral do Turismo e pelo enquadramento das suas reflexões. Importa agora levá-los à prática, no serviço autêntico às pessoas e às comunidades. Seja na responsabilidade política de quem governa, corrigindo assimetrias económicas e sociais; seja na responsabilidade local, valorizando o património material e imaterial existente, colocando-o, de forma equilibrada ao serviço dos turistas, para que os benefícios desta atividade humana se estendam a todos as comunidades locais, de maior ou menor concentração turística. Tal pressupõe criatividade e empenho – como nos foi dito – na capacidade de criar produtos turísticos atrativos, que conjuguem os vários agentes locais, de modo a que se inverta uma tendência ainda marcante do nosso país: uma concentração de projetos e pessoas no litoral, com menor atenção ao interior.

Em toda a ação turística é urgente vivermos uma verdadeira «conversão ecológica» (cf. LS. 217), para que também a atividade turística seja sustentável e possa contribuir para a preservação de todos os valores locais – naturais, sociais e culturais, segundo a visão de uma ecologia integral (cf. LS. 139), proposta pelo Papa Francisco; mas com especial enfoque, agora, na paisagem verdejante de um país que tem de persistir em oferecer-se com esse atrativo peculiar, que tanto atrai quem nos visita. Uma tarefa especialmente premente na hora presente, em que Portugal vive a urgência de se repensar ao nível da gestão dos seus recursos, particularmente naturais.

Luso, 04 de Novembro de 2017

Pe. Carlos Alberto da Graça Godinho

Diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo (ONPT)

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